sexta-feira, 31 de agosto de 2007

rendidas

Quando comecei este blog e falei de mim, disse que quem me conhecia sabia que eu era assim.
No entanto ás vezes quase me desconheço, porque há uma força que me impele a fazer o impensával. Afinal eu sou impulsiva.
Ontem o dia amanheceu diferente. Resolvi sair de casa mais cedo para o trabalho e fui andando quase sem dar por isso. Quando me apercebi estava dentro da igreja que fica ao fundo da rua.
Fiquei lá alguns momentos sem nada fazer, aliás rezar não é o meu forte . Mas senti uma paz dificil de explicar.
O resto do dia decorreu sem problemas e muito perto da hora do jantar a minha filha manifestou a vontade de comer um hamburguer, coisa que se faz lá em casa, muito raramente.
Acedi prontamente e lá fomos as duas de carro buscar a comida da nossa inquietação.
Quando estávamos na fila acercou-se de nós um rapaz nipónico, de aspecto descuidado, mas com um olhar especial, que depressa cativou a minha atenção.
Pediu-me se lhe podia dar alguma coisa, pois ainda não tinha comido.
A "pessoa" que levava ao meu lado disse logo: - " Mãe, por favor, ele é tão simples, tão educado, não é como os outros. Já o conheço, até lhe chamo o Jackie Chan e dou-lhe sempre uma moeda".
Não é costume agir assim, mas dei-lhe 1 € e ele agradeceu tanto, que até me senti mal. Falava bem português e desfez-se em "obrigado senhora".
A minha cabeça não parava de girar e apercebi-me que as diferenças, cada vez são mais que muitas. Imagino a descriminação a que deve estar sujeito, principalmente a de ordem racial.
Não me contive, chamei-o e perguntei-lhe se queria um hamburguer. A sua cara desenhou um sorriso de orelha a orelha, a combinar com os seus olhos rasgados .
Então, estendeu-me a mão para me devolver a moeda que eu lhe tinha dado. Senti um nó na garganta e só gostava de o poder ajudar. A sério. Aquele gesto disse-me muito, tocou-me.
Quando passado algum tempo lhe dei a comida, ele falou assim:
- Senhora dar muita comida, assim não gastar dinheiro. Posso juntar para quarto. Ainda faltam 4 €, mas Deus vai ajudar. Quando não ter dinheiro para quarto dormir na entrada do banco e não tomar banho há quatro dias. Roupa muito suja.
Atordoada segui o meu caminho e fui para casa. Quando me preparava para comer, a imagem do rapaz inundava o meu pensamento .
Instintivamente, fui ao quarto do meu filho e procurei rápidamente uma muda de roupa. Completei com umas sapatilhas, meti tudo num saco e disse:
- Filha, venho já.
Obtive como resposta, " mãe vou contigo". Não foram precisas mais palavras.
Percorri o caminho de volta e entreguei o saco. Parecia que ele estava à nossa espera.
Quando finalmente chegamos a casa, olhamos uma para a outra e a mensagem que passou, é que agora já podíamos jantar em paz. Missão cumprida. Afinal, dar custa tão pouco e não é preciso confundir bondade com caridade.