terça-feira, 13 de novembro de 2007

o reverso da medalha

Depois de um dia tão cansativo só consigo pensar nos meus ricos pés. Tão queridos apesar do tamanho ( 40 ). E sempre me disseram que eu tinha os pés grandes, o que implicava não os ter de " cinderela" ou de " chinesa ".
Levei anos a convencer-me que talvez me dessem jeito assim, nomeadamente para " dormir de pé " ou assistir ao terço sem cair pró lado.
Só as camponesas é que tinham os pés achatados, ou “pés de pato”, como lhes chamavam com sarcasmo. (E não é de admirar que a história da Cinderela — cujas irmãs, muito feias, não conseguiram enfiar os pés enormes no minúsculo sapatinho — seja de origem chinesa.)
Por outro lado não me estava a imaginar constantemente a perder os sapatos aquando das minhas correrias pró trabalho ou pra levar os filhos à escola.
Mas essa dos pés de chinesa, ficou-me sempre no ouvido e não entendia o que pudesse ter de interesse uns pés tão pequenos.
Resolvi fazer uma pesquisa e confesso que fiquei horrorizada. Já tinha ouvido falar, mas nunca tinha visto semelhante aberração.


Certo dia vi num programa no canal História esta dura realidade. Como é que pode existir beleza numa mal formação , que deve causar tanta dor.
Ao longo da História, várias foram as culturas que optaram por exagerar diversas partes do corpo.
Na China, era costume forçar a natureza, exagerando a pequenez do pé feminino. Os pés das mulheres eram enfaixados, um processo extremamente doloroso que começava na infância. As mães exigiam que as filhas, a partir dos sete anos, envolvessem os pés minúsculos numa ligadura especial, com 5 centímetros de largura e 3 metros de comprimento, que obrigava os dedos mais pequenos a encaracolarem-se para trás e para baixo, deixando livre apenas o dedo grande.
À medida que a ligadura ia sendo apertada, a sola do pé aproximava-se cada vez mais do calcanhar. Depois de vários anos deste tratamento, o pé ficava deformado para sempre, comprimido e atrofiado, quase como um pequeno casco, Os pés cabiam então nos pequenos sapatos requintadamente bordados, apenas com alguns centímetros de comprimento, que eram confeccionados para as senhoras da alta sociedade.
O pé pequeno semelhante a um casco, chamado Lótus Dourado, era considerado o máximo da beleza erótica pelos homens chineses. Enquanto faziam amor, eles acariciavam o Lótus Dourado, chupavam-no, mordiscavam-no e chegavam a enfiá-lo totalmente na boca, O pé tornava-se o núcleo do desejo erótico. Como as mulheres têm os pés mais pequenos que os homens, o exagero dessa diferença traduzia-se num excesso de feminilidade para a mulher.
O hábito chinês dos pés enfaixados durou quase um milénio, desde o século X até ao início do século XX, quando foi finalmente suprimido, devido à sua crueldade. O facto de ter subsistido durante tanto tempo deve-se à sua dupla importância: o pé não só era uma zona erótica, como era um símbolo de um estatuto social elevado. As mulheres que tinham os pés enfaixados não podiam executar trabalhos manuais. Ter um par de Lótus Dourados equivalia a uma vida inteira de reclusão palaciana, de inactividade forçada e de fidelidade.
Desmond Morris in «Os Sexos Humanos»
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Moral da história: Vivam os pés grandes, como os meus, digo eu ...